quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Escape

  - Bárbara, você vai descer para jantar? - a voz de sua mãe soou ao pé da escada.
  Babi estava escrevendo em seu diário quando ouviu. Ela levantou do sofá que ficava perto da janela, jogou o diário sem ver e andou com passos firmes até a porta.
  - Eu vou poder sair depois de comer ? Digo sair com ele? - Babi gritou do seu quarto.
  - Filha, nós já conversamos sobre isso e sabe também que..
  - Conversa ? Aquilo não foi e nunca será uma conversa, foi um monólogo ! E não quero saber de nada ! Só quero poder vê-lo - Babi bateu a porta do seu quarto, chaveou e ligou o som num volume que sabia que deixaria sua mãe transtornada.
  Como se sua mãe podia dizer agora quem ela podia ou não podia ver.. Isso nem parecia mais uma casa, era como uma prisão, só faltava as grades nas janelas. Ela ouviu um barulho que vinha da.. janela? Aquilo eram pedras ? Babi colocou a cabeça para fora, o que quase resultou numa pedrada no meio da testa.
  - Quem é o imbecil que quase acertou uma pedra em mim? - Gritou em plenos pulmões para que o estranho a ouvisse através da música que vinha do seu quarto.
  - É assim que você recepciona o seu salvador ? - Um garoto de cabelos escuros saia detrás de uma árvore com uma das sobrancelhas arqueadas.
  - O que você faz aqui ? Se.. - ah, como Babi odiava ser cortada no meio da frase, mas ela nem ligou dessa vez.
  - Não é obvio ? Vim te resgatar - agora ele estava bem embaixo de sua janela, e ela pensava se ele ouviu alguma parte da sua "conversa" com a mãe.
  - E como você espera fazer isso ? Quer que eu me jogue da janela do primeiro andar para os seu braços ?
  - Não confia nos meus músculos, Babi ? - Agora fora a vez dela de levantar a sobrancelha - Já que você insiste - disse revirando os olhos. - Tem uma escada do seu lado, eu a coloquei mas cedo, pressenti que isso aconteceria - e sorriu de um jeito triunfante, e ela ficou boquiaberta, e quando foi pedir explicações..  - Ande logo, Babi, não temos a noite toda, não que eu não quisesse, é claro. Mas sabe como é que é, terei que te trazer de volta antes que o pessoal sinta a sua falta.
  Então, Babi começou a descer a escada que estava, misteriosamente, ao lado de sua janela. Chegando nos últimos cinco degraus ela enroscou o pé e quase caiu. Só não caiu porque Carlos a segurara a tempo.
  - Ah, Babi, sempre desastrada.. - Agora que estava em seus braços, Babi nem ligou para as provocações, Se aconchegou dentro do casaco de couro dele e procurou seus lábios.
  - E então aonde iremos?
  - Depois decidimos, tenho uma coisa para te mostrar antes. Uma surpresa. - Eles andaram em direção a rua. Onde Babi avistou uma moto que deveria ser recém-comprada. - Isso é parte da surpresa.
  Uma vez ela dissera que sempre sonhou em andar de moto, mas não como motorista. E como Carlos tinha tirado a carta há algum tempo, resolveu dar esse presentinho à ela.
  - Para onde quer ir, moça ? - Disse de um jeito sedutor, o que não precisava muito para ser. Ele perguntou, mas a resposta dela não alteraria em nada os seus planos.
  - Para qualquer lugar, desde você esteja comigo - Babi deu um leve sorriso, e pegou o capacete que Carlos passara a ela.
  - Hm, então acho que conheço o lugar perfeito ! - E antes que Babi colocasse o capacete, ele a beijou. - Babi, esqueça todos esses problemas.. Essa será nossa fuga. Só eu e você ! - Carlos beijou-a mais uma vez, mas agora de um jeito urgente, e subiu na moto. Babi olhou para trás, viu a luz do seu quarto acesa e tocava uma música ao fundo. Sim, tinha que ser essa música. Throw it away, forget yesterday, we'll make the great escape ♫ 
  Ela colocou o capacete, subiu na moto, segurou em Carlos e sentiu um gostinho de liberdade através da velocidade em que a moto andava.
  - Acho que seis horas, é um bom horário para voltar para casa - ela disse em seu ouvido.



terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Just a summer love ?


  Olhava pela janela do carro, ouvindo o meu ipod e esperando ver o mar. Era verão e tudo o que conseguia pensar era nos minutos que faltavam para vê-lo. Morávamos na mesma cidade, a quilômetros dessa praia, chegamos a estudar no mesmo colégio, mas só quando nos encontramos nessa cidadezinha e descobrimos que nossas familias sempre passavam as férias de verão. Foi nesse momento em que tudo começou.
  Era muito mais que um amor de verão, mas muito menos que um namoro. Por mais que eu e ele morássemos na mesma cidade, quase nunca nos viámos, afinal São Paulo não é uma cidade pequena e sempre estavamos ocupados e com pressa.
  Só acordei dos meus devaneios quando meu irmão disse que a imensidão azul já podia ser avistada. Sem perceber meus olhos começaram a brilhar e meu coração a bater tão rápido e forte que pensei que fosse sair pela minha boca. Quando recebi umas mensagem de texto dele então, quase morri. Na mensagem dizia: "Você chega hoje, certo? Estarei te esperando no lugar de sempre." Perdi a conta de quantas vezes li e reli essa mensagem. E então o carro parou e nem acreditei que a partir de agora teria duas semanas só eu e ele.
*****
  O último dia da minha estadia chegara e não estava nem um pouco animada para a hora da despedida.
  Um pouco antes do pôr-do-sol, eu e ele saímos para caminhar na praia. Depois de andar um pouco parei. Eu precisava perguntar.
  - Gu, você se lembra de quando era apaixonado por mim e estudávamos na mesma escola? - ele afirmou com a cabeça - Lembra que eu nem ligava para você? - ele desviou o olhar - Eu me arrependo dessa última parte - ele me encarou, e eu olhei para os meus pés na areia. - Eu preciso saber se você ainda sente o mesmo por mim, desde aquela época.
  - Eu.. eu não sinto mais o mesmo por você, me desculpe - meus olhos embaçaram, não ia conseguir não chorar na frente dele. Então, ele me abraçou e levantou o meu queixo com uma das mãos para que olhasse nos meus olhos. - O que eu sinto por você hoje é muito maior e muito mais forte. E dessa vez vai ser diferente, eu te procurarei lá em sampa. - Ele enxugou minhas lágrimas - Eu te amo, Ana! - E se aproximou para me beijar.. Ah, era a primeira vez que ele me dizia isso, quase pulei em cima dele. Mas me controlei (6).


  O despertador toca e Ana acorda. Nãããão, fora apenas um sonho. Ana se virou na cama para tentar voltar àquele sonho, mas foi em vão. Então ela percebeu. Pulou da cama e pegou o celular. Precisava ligar para ele, e precisava fazer isso agora. Ela não queria que ele fosse apenas um amor de verão.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

If the moon fell down tonight..


  Hoje as pessoas estavam me sufocando. Não sei se era por mim, ou por todos; só sei que resolvi sair para "tomar um ar". Sem avisa ninguém, sai.
  A noite estava silenciosa e uma brisa chegou ao meu rosto, levantando o meu cabelo. Fechei os olhos e quando os abri, meu olhar se perdeu na esfera esbranquiçada no céu escuro. Mas, hoje a lua não estava solitária como acontece na minha terra natal, hoje a lua tinha milhares de estrelas ao seu lado. Tentei contá-las, mas me perdi depois da centésima. Sem perceber, me sentei na calçada em frente da casa da minha avó.
  - Paulinha, porque tu tais aqui sozinha? - nem o ouvi se aproximar, pudera, ele nascera aqui, num mundo onde o maior barulho eram as vacas mugindo.
  - Por nada, só precisava de um ar e a lua está tão linda hoje - não tirei os olhos do céu enquanto falava, mas sabia que ele me observava com curiosidade.
  - A lua? Não sabia que tu fosse tão.. - ele não terminou a frase - Não sabia que você tinha tempo para ver a lua na sua cidade grande.
  - As vezes me pergunto porque sempre tem poemas e textos sobre a lua, e nunca sobre o sol - ignorei suas provocações, e fiquei uns momentos em silêncio e ele não o quebrou - Será que é porque nós nos paremos mais com a lua do que com o sol? - Olhei para ele, e ele me encarava com uma cara de ponto de interrogação.
  - Sabe, a lua por ser tão pálida aparenta ser frágil, e ela é tão solitária nesse céu escuro, e mal consegue iluminar a noite, e bem a lua tem as suas fases.. Já o sol, é o Sol.
  - Entendo. E ouvindo as descrições da lua, pode até se encaixar numa pessoa...
  Houve mais um silêncio, eu com meus pensamentos e ele com os dele.
  - Que bom que a forma quase circular da lua, não me lembra os círculos perfeitos da geometria. - Agora eu o encarava com curiosidade - Mas, me lembra o movimento e a vida.. me lembra o novo. Sinto cheiro de vida, através do vento, e das folhas do mamoeiro sacudindo - ele vez uma pausa. - Sinto cheiro de vida.. mesmo através da minha dor.
  Deixei que suas palavras pairassem no ar, e quando eu abri minha boca para perguntar sobre essa dor que ele mencionara, e acho que ele percebeu no que eu estava pensando.
  - Paulinha.. vamos entrar, a May estava querendo falar com você - eu ia perguntar mesmo assim, mas preferi não tocar no assunto já que ele não queria falar. E entrei na casa acompanhada por ele.


Even if the moon fell down tonight...There'd be nothing to worry about at all because you make the whole world shine. As long as you're here everything will be alright.